segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Sobre os bancos...

«Acredito que as instituições bancárias são mais perigosas para as nossas liberdades do que o levantamento dos Exércitos. Se o povo americano alguma vez permitir que bancos privados controlem a emissão da sua moeda, primeiro pela inflação, depois pela deflação, os bancos e as empresas que crescerão à volta dos bancos despojarão o povo de toda a propriedade, até os seus filhos acordarem sem abrigo no continente que os seus pais conquistaram.»
Citação atribuída a Thomas Jefferson, advogado, 
político, terceiro Presidente dos Estados Unidos da América, 
nascido em 13 de Abril de 1743 e que o terá proferido em 1806. (*)
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Duzentos anos depois de Thomas Jefferson, vivemos numa sociedade em que a preponderância da economia e da finança sobre e sociedade e as pessoas e mais grave do que isso sobre os estados e os seus governos democraticamente eleitos (ou não) se torna cada vez mais grave e assustadora para quem pára um pouco para pensar no futuro a médio e longo prazo.

É certo que não podemos esquecer a importância da banca e do sistema financeiro na economia e nas sociedades atuais, o que não deveríamos permitir é que sob esse desígnio seja colocado nas mãos da Banca decisões de importância tal, que per si, sejam capazes de colocar estados soberanos (que ainda o sejam) à mercê de interesses obscuros de uma entidade também ela obscura que todos aceitamos designar por “Mercados”.

A questão não se coloca contra a existência dessa entidade, que alias, considero necessária e com um papel importante desenvolvimento do bem estar social em geral. Coloca-se antes num patamar de regulação que permita que o “monstro” (Mercados) seja mantido sob controlo. Um controlo que deverá estar sobre alçada direta dos estados e seus governos (teoricamente representantes da sociedade), e não sob domínio de “gestores” que sob o argumento de terem que ser independentes (algo que manifestamente não é nunca possível de assegurar), se tornam eles próprios fomentadores do crescimento do monstro e da sua desregulação.

Conseguimos encontrar justificação para total fracasso da regulação da banca em Portugal que culminou com os casos BPN, BPP, BES, BANIF e CGD (espero estar errado), a não ser a total incompetência de gestores principescamente pagos, que perante todos os indícios se escudaram na lei para não fazerem nada?

Provavelmente os ditos gestores, são parte integrante do problema, não apenas individualmente (algo que se manifesta na incompetência ou pior do que isso na colocação dos seus interesses individuais, mesquinhos e oportunistas à frente do interesse das instituições pelas quais são responsáveis), mas também coletivamente ao fazerem parte de um sistema que são incapazes de questionar e que manifestamente é a longo prazo prejudicial para as economias, aumentando os riscos de crises económicas cada vez mais profundas.

Seguindo um pouco o pensamento das teorias da conspiração ou aquela máxima dos filmes, “follow the money and you will find the perpetrator” (sigam o dinheiro e encontrarão o autor do crime):

Quem mais ganhou com a crise económica?

O fosso entre ricos e pobres diminuiu na sequência da crise?

A regulação da banca, do sistema financeiro, e dos “Mercados”, em geral aumentou?

Os estados recuperaram algum do poder que deveriam ter sobre o sistema financeiro mesmo depois de salvarem os bancos com uma enorme massa de dinheiro retirado aos cidadãos? Ou continuam reféns de um sistema que eles próprios ajudaram a construir, em que duas ou três entidades (Agências de rating, ou de notação financeira) são capazes de colocar a economia de um país na maior das recessões?

E onde estão os fabulosos lucros da Banca (refiro-me à portuguesa) do tempo das “vacas gordas”, que se vieram a provar ser fictícios e que agora o estado (Português), foi agora chamado em operações pomposamente chamadas de “recapitalização”?

Ninguém questiona o sistema que permitiu o apuramento desses lucros, fictícios, mas que ao serem considerados realizados conduziram à descapitalização das instituições em favor dos acionistas?

E as entidades que deveriam fiscalizar as contas destas entidades? Não deveriam ser capazes de anteciparem este tipo de coisas? Se não forem, para que servem, a não ser para cobrarem elevados honorários para emissão da “opinião” de que as contas de uma instituição dão uma imagem verdadeira e apropriada da sua situação financeira, dos resultados das suas operações e outros aspetos, de acordo com o normativo em vigor.

Podia continuar a fazer perguntas, mas duvido que conseguisse obter respostas.Questionar um sistema é incómodo principalmente um sistema poderosamente blindado em instituições, que se tornaram altistas devido ao poder que lhes foi concedido ou permitido obter, geridas por pessoas já tão formatadas pelo próprio sistema que acham que ele é autónomo e não tem que responder perante ninguém ao não ser ele próprio. 

José Alfaiate, dezembro de 2016

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(*) Nota sobre o pensamento atribuido a Thomas Jefferson.
A incerta origem deste pensamento não lhe retira de todo a validade mas como gosto de questionar...
De acordo com uma pequena pesquisa que realizei o texto que é geralmente atribuido a Thomas Jefferson surgiu pela primeira vez em 1933, nos EUA sob a sombra da Grande Depressão na seguinte forma:
«I believe that banking institutions are more dangerous to our liberties than standing armies,” Jefferson wrote. "If the American people ever allow private banks to control the issue of their currency, first by inflation, then by deflation, the banks and corporations that will grow up around (these banks) will deprive the people of all property until their children wake up homeless on the continent their fathers conquered... The issuing power of currency shall be taken from the banks and restored to the people, to whom it properly belongs.»
 De acordo com a "Thomas Jefferson Foundation" é pelo parcialmente incorreto a atruibuição desta citação. No entanto poderá de certa forma tratar-se de paráfrases de um excerto e de uma carta e de um comentário, esses sim de Thomas Jefferson. O primeiro um excerto de uma carta escrita em 1816 a John Taylor que dizia o seguinte:
«And I sincerely believe, with you, that banking establishments are more dangerous than standing armies; and that the principle of spending money to be paid by posterity, under the name of funding, is but swindling futurity on a large scale»
O segundo resultante de uma errada interpretação de um comentario em que era dito;
«Bank-paper must be suppressed, and the circulating medium must be restored to the nation to whom it belongs.»

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