sábado, 30 de abril de 2011

Os Lusiadas e a sociedade moderna

Quando Luís Vaz de Camões escreveu os Lusíadas, talvez não imaginasse a intemporalidade e universalidade de muitos dos seus versos. 

As palavras atribuidas ao Velho do Restelo no Canto IV são disso um claro exemplo. Estes versos poderiam ter sido escritos sobre a sociedade moderna ocidental, focada cada vez mais na economia, num liberalismo sem regras, numa sociedade em que o único valor parece ser o poder (também económico mas não só), em que o imediatismo se sobrepõe ao conhecimento da verdade e dos factos, em que o individual se sobrepõe ao coletivo:

- "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!


- "Dura inquietação d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!

- "A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?

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