- - "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
- Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
- Ó fraudulento gosto, que se atiça
- C'uma aura popular, que honra se chama!
- Que castigo tamanho e que justiça
- Fazes no peito vão que muito te ama!
- Que mortes, que perigos, que tormentas,
- Que crueldades neles experimentas!
- - "Dura inquietação d'alma e da vida,
- Fonte de desamparos e adultérios,
- Sagaz consumidora conhecida
- De fazendas, de reinos e de impérios:
- Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
- Sendo dina de infames vitupérios;
- Chamam-te Fama e Glória soberana,
- Nomes com quem se o povo néscio engana!
- - "A que novos desastres determinas
- De levar estes reinos e esta gente?
- Que perigos, que mortes lhe destinas
- Debaixo dalgum nome preminente?
- Que promessas de reinos, e de minas
- D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
- Que famas lhe prometerás? que histórias?
- Que triunfos, que palmas, que vitórias?
Quando Luís Vaz de Camões escreveu os Lusíadas, talvez não imaginasse a intemporalidade e universalidade de muitos dos seus versos.
As palavras atribuidas ao Velho do Restelo no Canto IV são disso um claro exemplo. Estes versos poderiam ter sido escritos sobre a sociedade moderna ocidental, focada cada vez mais na economia, num liberalismo sem regras, numa sociedade em que o único valor parece ser o poder (também económico mas não só), em que o imediatismo se sobrepõe ao conhecimento da verdade e dos factos, em que o individual se sobrepõe ao coletivo:
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